Princesas

A Princesa das Águas

Historinha A Princesa das Águas

No fundo de uma lagoa azul‑esverdeada, onde as algas dançavam como fitas ao sabor das correntes, vivia uma jovem sereia chamada Coralina. Seus cabelos eram longos como fios de luz do pôr do sol, e seu rabo brilhava com tons de coral e esmeralda. Todas as manhãs ela nadava entre jardins de anêmonas, conversava com os peixes e ajudava os caranguejos a empilhar conchas. Mas, à noite, quando a lua subia e o mar ficava prateado, Coralina sonhava com outra vida: queria ser princesa.

Não era apenas o brilho das coroas que a atraía. Coralina imaginava como seria proteger seu povo, receber visitantes com um sorriso, levar alegria às crianças na praia e organizar festas onde todos — do menor golfinho ao maior navio — pudessem se sentir bem‑vindos. Ela guardava, num baú de concha, pequenos tesouros que encontrava à beira-mar: um laço de fita, uma colher de prata, retalhos coloridos. Às vezes ela vestia os retalhos, prontos como vestidos de baile, e fazia curtsias para as estrelas.

Seu amigo mais velho, uma tartaruga chamada Tristão, costumava observá‑la com paciência. “Coralina,” dizia ele com voz lenta, “um coração bondoso pode ser mais nobre que qualquer coroa. Mas se é isso que desejas, cuida bem do teu sonho — princípes e princesas não nascem só de sangue, nascem de atos.”

Num verão em que as ondas pareciam mais inquietas, o reino humano da costa preparava uma grande celebração: seria a coroação da Princesa Aurora, uma jovem conhecida por seu sorriso aberto e por amar o mar tanto quanto qualquer pescador. Na noite da festa, lanternas flutuariam no porto e as famílias se reuniriam para cantar. Coralina, curiosa, nadou até a foz do rio para ver as luzes. Escondeu‑se entre as rochas e observou a princesa dançar na areia, trazendo as crianças para perto e deixando que os mais velhos contassem histórias. Coralina sentiu um aperto no peito: era exatamente aquilo que ela sonhava.

Mas durante a festa, uma tempestade inesperada caiu sobre a costa. Ventos rugiram, as ondas cresceram, e as lanternas voaram. Um barco pequeno, cheio de mantimentos para os mais pobres, foi arrancado do cais e começou a afundar. Vendo o perigo, Coralina não pensou duas vezes. Chamou seus amigos do mar — golfinhos, polvos e peixinhos — e fez com que as correntes empurrassem o barco para uma enseada segura. Numa última onda, a Princesa Aurora havia ficado presa, agarrando‑se ao casco. Coralina nadou até ela, com o coração tamborilando, e, com toda a força que tinha, empurrou a princesa para uma porção de rocha onde o vento não alcançava.

Quando a tempestade passou, Aurora abriu os olhos e viu a jovem sereia ao seu lado. Em vez de medo, seus olhos brilharam de gratidão. “Tu me salvaste,” disse a princesa, estendendo a mão. Coralina, surpresa e tímida, tocou a mão humana e sentiu algo quente, como se tivesse tocado o dia. Aurora sorriu e disse: “Nunca vi alguém tão corajosa. Se há princesa do mar, deves ser tu.”

A notícia da bravura de Coralina correu rápido. Os pescadores contaram a história nas tavernas, as crianças cantaram sobre a sereia que ajudou a princesa, e até o rei Henrique, pai de Aurora, ouviu falar do gesto. Convocado à praia, Coralina pulou entre as ondas e, com um pouco de vergonha, apresentou‑se. O rei, um homem de bigode gentil, ajoelhou‑se perante ela — não por tradição, mas por reconhecimento. “Coralina,” declarou ele com voz firme, “tu mostraste que príncipe e princesa são aqueles que cuidam do próximo. Em nome do reino, te ofereço um título: Princesa das Marés, guardiã entre terra e mar.”

Coralina sentiu o mundo girar. Não era uma coroa de ouro que lhe foi dada, mas uma coroa feita de conchas, pérolas e fios de lua, costurada pelas crianças e abençoada por Aurora. Mais que isso, ela ganhou algo ainda mais precioso: o respeito e o amor de dois mundos que muitas vezes se ignoravam.

Como Princesa das Marés, Coralina passou a visitar a praia nas manhãs de festa, ajudando a ensinar às crianças sobre o cuidado com o lixo, a preservar os recifes e a ouvir as histórias dos pescadores. Aurora e ela criaram um laço forte: a princesa aprendia a ouvir o ritmo das ondas, e Coralina aprendeu a falar com as pessoas em festas e cerimônias. Juntas, organizaram um dia em que crianças de ambas as margens plantaram pequenas florestas de algas e árvores de praia, para que peixes e aves tivessem onde morar.

Tristão, a tartaruga, via tudo com orgulho. “Vês, Coralina? Ser princesa é ser ponte. Tu uniste dois corações.” Coralina sorriu, tocou a coroa de conchas e entendeu: mais do que um vestido ou um título, ser princesa significava cuidar, proteger e fazer com que todos — humanos e criaturas do mar — se sentissem queridos.

E quando as noites vinham e as estrelas brilhavam sobre a superfície, Coralina sentava na rocha mais alta, com Aurora ao lado, e olhava para o horizonte. Havia chegado à sua grandeza ao ser exatamente quem era: uma sereia com coragem, amor e um coração disposto a ajudar. No fundo do mar e na areia da praia, as crianças contavam essa história como um lembrete: qualquer um pode ser princesa, bastando ter bondade, coragem e o desejo de cuidar dos outros.

Fim.

 

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Criador de historia infantil, adoro criar historinhas e também sou uma amante da literatura. Editor e fundador do Historia para dormir.

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