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O Natal que Não Brilhava

Historinha O Natal que Não Brilhava

Léo tinha oito anos e um sorriso esperto que aparecia toda vez que alguém falava a palavra “presente”. Para ele, dezembro era o mês mais mágico do ano, não por causa das luzes nas ruas ou do cheiro de biscoitos de gengibre que invadia a casa, mas porque chegava o momento de ganhar coisas novas. Naquele ano, seu pedido era ambicioso: um videogame moderno cheio de botões coloridos, um carrinho de controle remoto que subia paredes e, claro, uma montanha de chocolates embrulhados em papel brilhante.

Todas as manhãs, antes mesmo de escovar os dentes, Léo corria até a sala e ficava diante da árvore decorada com bolas vermelhas, laços dourados e fitas cintilantes. Ele contava, um a um, os pacotes já embrulhados.

— Um pra mim… dois pra mim… três pra mim! — cantarolava, imaginando o que havia dentro de cada caixa.

No alto da árvore ficava a estrela dourada, que em anos anteriores piscava alegremente, iluminando a sala toda. Mas, naquele Natal, ela se recusava a acender. Vó Nilda trocou pilhas, testou fios e até soprou, na esperança de “assoprar” mágica para dentro dela, mas nada. A estrela permanecia apagada, como se estivesse de mau humor.

— Essa estrela parece cansada… — comentou a avó, ajeitando o xale colorido sobre os ombros.

— Ah, o que importa é o presente, vó! — disse Léo, sem tirar os olhos dos embrulhos.

Naquela noite, o silêncio foi interrompido por um piado fininho perto da janela do quarto do menino. Léo, ainda sonolento, abriu a cortina e viu um pássaro de penas douradas reluzentes, segurando um raminho de alecrim no bico.

— Sou o Tico! — anunciou o passarinho, pousando no parapeito. — E acho que o Natal da sua casa está um pouco triste.

— Triste? — Léo coçou a cabeça. — Mas temos árvore, luzes e, principalmente, rabanada!

Tico sacudiu as penas, soltando um brilho suave no ar.

— As luzes estão aí fora, mas falta brilho aqui dentro. — Ele bicou levemente o peito do menino, bem onde o coração bate. — Vem comigo que eu mostro.

Sem entender bem, Léo calçou o chinelo, vestiu o casaco e seguiu o passarinho até a praça. Era tarde, o ar estava frio, e a lua parecia uma bola de gelo pendurada no céu. Debaixo de um banco, um senhor se abrigava em um cobertor fino; mais adiante, um casal arreganhava um sorriso amassado enquanto dividia um pão francês; e perto do coreto, uma menininha brincava com uma boneca feita de duas meias costuradas, sem olhos nem fitas.

Léo ficou sem palavras. Ele nunca tinha prestado atenção nessas coisas. Só via a praça iluminada, as barracas de pipoca e, às vezes, corria para brincar no escorregador. Mas, naquela noite, ao lado de Tico, enxergou algo diferente: viu a falta de cobertores, a fome escondida atrás de sorrisos e o frio que arrepiava até o canto do vento.

— Ela não ganhou presente… — sussurrou Léo, olhando para a menina da boneca de meias.

— E mesmo assim ela encontra motivo para sorrir — respondeu Tico, pousando no ombro do menino. — O brilho que a estrela da sua sala perdeu ainda mora em lugares assim, onde a bondade faz mais falta.

No caminho de volta, o silêncio acompanhou cada passo de Léo. Suas botas pareciam pesadas, cheias de pensamentos. Ao chegar em casa, ele deitou, mas o sono não veio depressa; aquela imagem da praça ficava rodopiando em sua cabeça como flocos de neve teimosos.

Na manhã seguinte, Léo pulou da cama antes mesmo do galo do vizinho cantar. Correu até a cozinha, onde Vó Nilda preparava o café.

— Vó, posso ajudar a fazer chocolate quente? E tem aqueles brinquedos velhos que eu não uso mais? — perguntou, com brilho no olhar.

A avó arqueou as sobrancelhas, surpresa, e abriu um sorriso cheio de rugas bonitas.

— Claro que pode, meu querido. Vamos separar tudo.

Durante toda a manhã, a casa se encheu de movimento. Léo limpou o carrinho vermelho que ficava esquecido no fundo do armário, escolheu livros de histórias que já sabia de cor e colocou chocolates em saquinhos coloridos. Vó Nilda fez uma panela fumegante de chocolate quente, embrulhou pedaços de bolo e pegou um cobertor grosso que guardava há anos.

Quando o sol começou a se inclinar, Léo e a avó foram à praça com um carrinho de compras cheio de doações. Tico sobrevoava a dupla, cantando delicadamente, como se desse ritmo à boa ação. A cada parada, um sorriso novo surgia: o senhor do banco recebeu o cobertor; o casal dividiu o pão quentinho com chocolate; a menininha ganhou o carrinho vermelho e abraçou a boneca de meias e o brinquedo novo ao mesmo tempo, como se não coubessem tantos sentimentos em braços tão pequenos.

O coração de Léo pareceu acender por dentro. A sensação era tão boa quanto — ou melhor que — abrir uma caixa surpresa. Ele percebeu que todos aqueles abraços e agradecimentos eram presentes diferentes, que não vinham embalados em papel, mas embrulhavam a alma de calor.

À noite, de volta em casa, Vó Nilda apagou as luzes da sala para que eles pudessem admirar a árvore. Léo entrelaçou os dedos, ansioso, mesmo sem saber por quê. Então, uma claridade suave inundou o ambiente: a estrela dourada, completamente apagada nos dias anteriores, agora brilhava intensamente, como se um sol minúsculo morasse dentro dela.

— Vó, olha! — gritou Léo. — Ela acendeu!

Vó Nilda sorriu, puxando o neto para um abraço apertado.

— A estrela só precisava de um pouco de luz lá de dentro, meu amor. Quando seu coração brilhou, ela também brilhou.

Léo sentiu as bochechas esquentarem de emoção. Ele olhou para a árvore, para a estrela, para os presentes — ainda embrulhados, aguardando a noite de Natal — e percebeu que o que mais importava já tinha acontecido naquele dia.

Ele acariciou as penas de Tico, que se acomodara em um galho próximo.

— Tico, agora entendi. O Natal brilha quando a gente acende a luz do coração — disse, com a voz doce.

Tico piou feliz, o bico apontado para o alto, como quem agradece ao céu.

Naquela noite, Léo dormiu pensando nas pessoas da praça, nas histórias que ainda contaria, nos abraços que ainda daria. Descobriu que presentes são ótimos, mas que o maior deles é a alegria de compartilhar. E, desde então, todo dezembro, antes de escrever qualquer lista de desejos, ele perguntava: “Como posso fazer brilhar a estrela do meu coração este ano?”

Moral da história: O verdadeiro espírito do Natal não está nos presentes que recebemos, mas no amor e na bondade que espalhamos por onde passamos.

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historinha

Criador de historia infantil, adoro criar historinhas e também sou uma amante da literatura. Editor e fundador do Historia para dormir.

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