
Era uma vez, após o grande Dilúvio, toda a humanidade falava a mesma língua e vivia unida. As pessoas erguiam suas tendas, colhiam frutos e cuidavam de suas famílias, sempre ajudando umas às outras nas tarefas do dia a dia. Com o tempo, elas se reuniram em uma planície chamada Sinar e decidiram construir uma grande cidade, no centro da qual haveria uma torre tão alta que seu topo alcançaria o céu.
O objetivo era simples: permanecerem juntos, impedir que se dispersassem pela terra e mostrar como eram fortes e inteligentes. “Vamos fazer tijolos bem quentes e firmes”, dizia um pedreiro, amassando a argila com as mãos. “E teremos ratiares de betume para unir cada tijolo”, completava o oleiro, mergulhando as peças na massa brilhante. A cada manhã, homens, mulheres e até crianças se juntavam à obra, carregando baldes de tijolos sobre a cabeça, cantando canções de trabalho para embalar o esforço coletivo.
A torre crescia dia após dia. No alvorecer, o sol beijava os primeiros andares; à tarde, as nuvens passeavam por sobre o canteiro de obras, como se quisessem dar um “oi” aos operários. As paredes eram largas, pintadas com cores vivas e decoradas com símbolos de união e força. Crianças corriam pelos andaimes baixos, levando mensagens de um lado para o outro, enquanto os carpinteiros pregavam pranchas e ajustavam escadas de madeira que serpenteavam pela face externa da torre.
Mas, aos poucos, o desejo de mostrar poder tornou-se vaidade. Conversas de ajuda ao próximo deram lugar a comentários orgulhosos: “Logo veremos de cima toda a planície!” “Será a maior construção que os homens já fizeram!” Orgulhosos, esqueceram de agradecer a Deus pelo talento e pela cooperação que os unia. Pensavam somente no brilho pessoal de cada tijolo que colocavam.
Deus, que vê cada coração e conhece cada intenção, observou a torre e aquela multidão tão unida, porém tão vaidosa. Sabia que, se permitisse que continuassem assim, nada lhes seria impossível – e eles poderiam se afastar do caminho que fosse para o bem de todos. Então, com amor e sabedoria, decidiu ensinar uma grande lição: fez descer sobre eles uma brisa suave, quase como um sussurro, e misturou as palavras que falavam.
De repente, um construtor dizia “água” e o colega entendia “fogo”. Ao pedir “mais tijolos”, recebia apenas os baldes vazios. Frustrados, as pessoas pararam de cantar e prestaram atenção: cada voz tinha um som diferente, cada frase não fazia mais sentido. Tinham falado uma só língua durante tanto tempo que aquilo pareceu magia! Sem conseguir se comunicar, viram que não tinham como continuar a obra unida.
Abandonaram as pás, deixaram as argamassas semiusadas e desceram da torre, chamando uns aos outros em vários idiomas. Alguns choravam de saudade do que haviam construído; outros simplesmente seguiam o instinto de encontrar um novo lugar onde pudessem conversar com quem falasse como eles. Aos poucos, aquele povo se espalhou por toda a terra, guiado pelo vento e por corações que desejavam morar juntos em paz.
A imensa torre ficou inacabada, erguendo-se contra o céu como lembrança de que a vaidade separa, mas a humildade e o respeito aproximam. Ela passou a ser chamada de “Babel”, que significa “confusão”, pois ali as línguas se confundiram. No entanto, o amor de Deus por cada comunidade permaneceu o mesmo, e Ele ainda ouvia o cantar de cada uma, fosse em hebraico, grego, árabe, tupi ou qualquer outra língua.
E assim nasceu a diversidade de povos e culturas do mundo. Cada grupo levou consigo memórias do grande sonho de união, mas aprendeu que, antes de tudo, é preciso olhar para o Alto e agradecer pelos talentos recebidos. A Torre de Babel, mais do que um monumento de pedra, tornou-se a história que ensina crianças e adultos a valorizar a cooperação sem esquecer a simplicidade de um “obrigado” e o respeito pelo próximo, mesmo que fale de um jeitinho diferente do nosso.