Bíblica

A Última Ceia

Historinha A Última Ceia

O sol se espreguiçava preguiçosamente sobre Jerusalém, lançando raios dourados sobre as torres e os telhados da cidade, marcando a aproximação da Páscoa. Nas ruas movimentadas, o ar vibrava com a expectativa da celebração, o aroma de pães ázimos frescos misturado com o balbucio animado das conversas. No entanto, no coração de Jesus, pairava uma serenidade melancólica, uma profunda consciência do que estava por vir.

Ele havia passado os últimos três anos viajando pela Galileia, ensinando sobre o amor, o perdão e a chegada do Reino de Deus. Seus milagres, sua compaixão e suas palavras poderosas haviam atraído uma multidão de seguidores, mas também a ira dos líderes religiosos, que viam nele uma ameaça à sua autoridade.

Naquela tarde, Jesus reuniu seus doze apóstolos em um cenáculo espaçoso, emprestado por um amigo. O cômodo era simples, com um longo tapete no chão e uma mesa baixa no centro. O ambiente era carregado de uma solenidade silenciosa, um pressentimento de que aquela noite seria diferente de todas as outras.

Enquanto os apóstolos se acomodavam ao redor da mesa, Jesus se levantou e, para surpresa de todos, pegou uma bacia com água e uma toalha. Ele começou a lavar os pés de seus discípulos, um ato de humildade e serviço que era normalmente reservado aos escravos.

Pedro, sempre impulsivo, protestou: “Senhor, lavas os meus pés?”

Jesus respondeu com doçura: “O que eu faço, não o compreendes agora; compreendê-lo-ás depois.” E continuou a lavar os pés de cada um deles, um gesto de amor incondicional e uma lição de serviço que ficaria gravada em seus corações para sempre.

Após lavar os pés de seus discípulos, Jesus voltou para a mesa e disse: “Em verdade, em verdade vos digo que um de vós me trairá.”

O silêncio se abateu sobre o cômodo, interrompido apenas pelo som ofegante dos apóstolos. A incredulidade e a confusão se estampavam em seus rostos. Quem seria capaz de tamanha traição?

Começaram a questionar um ao outro, sussurrando seus medos e suspeitas. “Senhor, porventura sou eu?” perguntava cada um, com o coração apertado pela angústia.

Jesus, com um olhar triste, respondeu: “Aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado, esse é.” Ele molhou um pedaço de pão e o ofereceu a Judas Iscariotes, que o aceitou sem demonstrar emoção.

Naquele instante, o coração de Judas se obscureceu completamente. A semente da traição, que já havia sido plantada em sua mente, floresceu em um ato de rebelião e ganância. Jesus, conhecendo os pensamentos de Judas, disse-lhe: “O que tens de fazer, faze-o depressa.”

Judas se levantou da mesa e saiu do cenáculo, mergulhando na escuridão da noite. Os outros apóstolos, perplexos, não compreenderam o significado de suas palavras.

Jesus, sabendo que sua hora havia chegado, tomou um pão, deu graças, partiu-o e o deu aos seus discípulos, dizendo: “Tomai, comei; isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim.”

Em seguida, tomou um cálice com vinho, deu graças e o ofereceu a eles, dizendo: “Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue do novo pacto, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. Digo-vos que, desta hora em diante, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba de novo convosco no reino de meu Pai.”

Com estas palavras, Jesus instituiu a Eucaristia, o sacramento que perpetuaria sua presença entre seus seguidores, um memorial de seu sacrifício de amor.

Após a ceia, Jesus e seus apóstolos cantaram um hino e se dirigiram ao Jardim do Getsêmani, um lugar de paz e oração que Jesus frequentemente visitava. Lá, sob o luar prateado, Jesus se afastou de seus discípulos e começou a orar.

A angústia o consumia, a consciência do sofrimento que o aguardava oprimindo seu espírito. Ele suava gotas de sangue enquanto implorava a seu Pai: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua.”

Um anjo do céu apareceu e o confortou, fortalecendo-o para enfrentar a provação que estava por vir. Jesus voltou para seus discípulos, mas os encontrou dormindo, exaustos pela emoção da noite.

“Simão, estás dormindo?” perguntou Jesus a Pedro. “Não pudeste vigiar uma hora?” Ele os exortou a orar para que não caíssem em tentação, mas o sono os vencia repetidamente.

Enquanto Jesus orava pela terceira vez, Judas retornou, acompanhado por uma multidão armada com espadas e varas, enviada pelos líderes religiosos. Judas se aproximou de Jesus e o beijou, um sinal predeterminado para identificá-lo aos seus captores.

“Judas, com um beijo trais o Filho do Homem?” perguntou Jesus, com tristeza em sua voz.

Naquele momento, a traição se consumou. Jesus foi preso e levado para ser julgado, deixando para trás seus apóstolos, assustados e desorientados. A Última Ceia havia terminado, marcando o início dos eventos que mudariam o curso da história para sempre. A semente do sacrifício havia sido plantada, e a promessa da ressurreição pairava no horizonte, aguardando o momento certo para florescer.

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Criador de historia infantil, adoro criar historinhas e também sou uma amante da literatura.

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