Bíblica

A Queda de Jerusalém

Historinha A Queda de Jerusalém

A primavera de 70 d.C. trouxe consigo não o prenúncio de renascimento e esperança, mas o peso sufocante de um destino iminente sobre a cidade de Jerusalém. Suas muralhas, outrora símbolos de proteção divina e orgulho nacional, agora serviam como asfixiantes limites de um cerco imposto pelo implacável exército romano, liderado pelo General Tito.

Dentro da cidade, a tensão era palpável, quase física. O ar, antes perfumado com o aroma de incenso e especiarias, agora carregava o fedor da morte e da miséria. A população, outrora vibrante e unida em sua fé, encontrava-se dividida por facções internas, consumidas pelo ódio e pela sede de poder. Zelotes, sicários e outros grupos radicais lutavam entre si pelo controle da cidade, enquanto a população faminta e desesperada sofria nas entrelinhas dessa guerra fratricida.

No meio desse caos, vivia Miriam, uma jovem judia de coração puro e fé inabalável. Ela havia perdido seus pais para a doença que assolava a cidade, e agora cuidava de seu irmão mais novo, Samuel, um menino de olhos grandes e curiosidade insaciável, que ainda não compreendia a gravidade da situação. Miriam encontrava consolo nas palavras dos profetas, nas promessas de um Messias que libertaria o povo de Israel. Ela se agarrava à esperança de que Deus, em sua infinita misericórdia, interviria para salvar Jerusalém.

A cada dia, o cerco romano se apertava. As catapultas lançavam pedras flamejantes sobre a cidade, transformando casas em ruínas fumegantes. As muralhas eram constantemente atacadas pelos aríetes, e os soldados romanos, impiedosos em sua determinação, avançavam implacavelmente. A fome se tornava uma presença constante, roubando a força e a esperança do povo. Miriam e Samuel compartilhavam um pedaço de pão amanhecido, racionando cada migalha como se fosse um tesouro precioso.

Uma noite, enquanto Miriam e Samuel se abrigavam em um porão úmido, eles ouviram um estrondo ensurdecedor. As muralhas da cidade haviam sido rompidas. Os soldados romanos invadiram Jerusalém, espalhando o terror e a destruição por onde passavam. Miriam pegou Samuel pela mão e correu pelas ruas labirínticas da cidade, tentando escapar do massacre.

Eles se refugiaram no Templo, o coração sagrado de Jerusalém, onde uma multidão de pessoas buscava proteção. Miriam acreditava que Deus não permitiria que seu Templo fosse profanado. No entanto, a sanha dos romanos era implacável. Eles invadiram o Templo, matando homens, mulheres e crianças sem distinção. O sangue corria como um rio, manchando o chão sagrado.

Miriam e Samuel se esconderam em um canto escuro, testemunhando horrores indescritíveis. Eles viram soldados romanos saqueando os tesouros do Templo, profanando os objetos sagrados. Eles ouviram os gritos de dor e desespero das vítimas. Miriam abraçava Samuel com força, tentando protegê-lo da violência que os cercava.

De repente, um soldado romano os encontrou. Ele puxou Miriam para longe de Samuel, preparando-se para atacá-la. Miriam fechou os olhos, resignada ao seu destino. Mas, naquele instante, um grito agudo ecoou pelo Templo. Samuel, em um ato de bravura infantil, havia mordido a perna do soldado.

O soldado, furioso, jogou Miriam no chão e se preparou para matar Samuel. Mas, antes que pudesse fazê-lo, um centurião romano apareceu e o impediu. O centurião, cujo nome era Marcus, ficou impressionado com a coragem do menino. Ele ordenou que o soldado os deixasse em paz.

Marcus levou Miriam e Samuel para fora do Templo, que agora estava envolto em chamas. Ele os conduziu através das ruas destruídas de Jerusalém, até um acampamento romano. Lá, ele lhes ofereceu comida e abrigo.

Miriam não confiava em Marcus. Ela o via como um inimigo, um membro do exército que havia destruído sua cidade e matado seu povo. No entanto, ela não podia negar a bondade que ele havia demonstrado. Marcus cuidou deles, protegendo-os dos outros soldados.

Com o tempo, Miriam começou a ver Marcus como um ser humano, e não apenas como um romano. Ela percebeu que ele também sofria com a violência da guerra. Marcus havia perdido sua esposa e filhos em uma batalha anterior, e agora ele se sentia culpado pela destruição de Jerusalém.

Um dia, Marcus disse a Miriam que ele estava prestes a ser transferido para outra cidade. Ele ofereceu a ela e a Samuel a oportunidade de irem com ele. Miriam hesitou. Ela não queria deixar Jerusalém, a cidade de seus ancestrais. No entanto, ela sabia que não havia futuro para eles ali. A cidade estava em ruínas, e a maioria de seus habitantes havia sido morta ou escravizada.

Miriam olhou para Samuel, que a encarava com seus olhos grandes e confiantes. Ela sabia que precisava tomar uma decisão por ele. Ela decidiu ir com Marcus.

Eles partiram de Jerusalém em uma carroça romana, deixando para trás as ruínas fumegantes da cidade que um dia fora o centro do mundo. Enquanto se afastavam, Miriam olhou para trás e viu o Templo, agora reduzido a cinzas. Lágrimas escorreram pelo seu rosto.

Miriam nunca se esqueceu de Jerusalém. Ela sempre se lembraria da beleza da cidade, da fé do seu povo e da tragédia da sua destruição. No entanto, ela também se lembraria da bondade de Marcus, o centurião romano que a havia salvado e a Samuel da morte.

Miriam sabia que a Queda de Jerusalém havia sido um evento devastador, mas também havia sido uma oportunidade para o renascimento. Ela e Samuel eram sobreviventes, e eles carregariam consigo a esperança de um futuro melhor. Eles reconstruiriam suas vidas, levando consigo as lições aprendidas em meio à tragédia. E, acima de tudo, eles nunca se esqueceriam de sua fé em Deus, que os havia sustentado durante os tempos mais sombrios.

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historinha

Criador de historia infantil, adoro criar historinhas e também sou uma amante da literatura.

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