
Numa manhã em que o sol desenhava moedas douradas sobre as folhas, havia uma lagoa tão serena que parecia um espelho do céu. Chamava-se Lagoa Encantada, porque quem se aproximava dela sentia um sussurro doce nas águas, como se a própria lagoa guardasse histórias antigas. Ao redor cresciam jasmim e lírios, e libélulas prateadas bailavam por cima da superfície em pequenos compassos de luz.
Perto dessa lagoa viviam duas princesas: a princesa Marina e a princesa Celeste. Marina tinha cabelos longos como algas e olhos da cor das marés; gostava de conversar com os peixes e aprender canções antigas das tartarugas. Celeste era leve como uma nuvem, com risos que faziam flores abrirem; ela costumava caminhar nas margens, trançando coroas de flores e contando segredos ao vento. Embora diferentes, eram inseparáveis, e juntas cuidavam da lagoa e de suas pequenas criaturas.
Certa tarde, uma sombra passou sobre a superfície da água. As rãs cessaram o coaxar, e até os lírios se curvaram inquietos. Um barquinho escuro chegada pelo rio carregando um mercador que parecia triste. Ele contou às princesas que o reino vizinho sofria por conta de uma enorme pedra mágica que havia endurecido o coração de seu rei — o homem havia esquecido de rir, de ouvir as histórias do povo e até de cuidar das árvores. A pedra estava escondida nas profundezas de uma caverna, e apenas a água pura da Lagoa Encantada podia dissolvê-la.
As princesas olharam uma para a outra, e sem hesitar, decidiram partir. Marina disse: “Se a lagoa é sussurro, devemos ouvir o que ela pede.” Celeste completou: “E se a água pode curar, levaremos um pouco em nossos corações também.” Assim, encheram pequenos frascos com água da lagoa e começaram a jornada. Antes de sair, a guardiã da lagoa — uma cisne branco chamado Lira — pousou entre elas e disse com voz suave: “Quem leva a água deve levar também ternura. A pedra só se desfaz com gestos de bondade, não apenas com coragem.”
No caminho, passaram por um bosque onde árvores antigas tinham folhagens que cochichavam. Um esquilo fez serenata para uma árvore que havia perdido sua casinha por causa do vento. Marina ajudou a reconstruir a miniatura de madeira, e Celeste emprestou uma fita azul para fazer um enfeite. Ao saírem, a árvore as abençoou, deixando cair uma folha brilhante que ninguém mais conseguia ver — apenas corações puros.
Mais adiante, encontraram um sapo que havia perdido sua canção. Triste, ele observava a água sem sentido. Celeste entoou uma melodia simples, e Marina soprou nela como quem espalha sementes. O sapo, aos poucos, recuperou a voz e cantou uma nota tão clara que a lua, ainda diurna, piscou de alegria. Em gratidão, o sapo alcançou para as princesas um pequeno amuleto feito de cascalho e lodo, que brilhava como se fosse um pedaço de céu.
Quando finalmente chegaram ao castelo do rei, encontraram portas fechadas, guarda em silêncio e jardins desbotados. A pedra mágica brilhava fria no centro da sala do trono, e dela jorrava um silêncio que até pesava no ar. O rei, sentado e imóvel, não reconheceu as princesas de imediato. Marina e Celeste lembraram-se das palavras de Lira: “Levem ternura.” Em vez de usar palavras altivas, aproximaram-se com gestos simples.
Marina colocou um frasco com a água da lagoa perto da pedra, deixando uma gota cair sobre sua superfície escura. Nada aconteceu. Celeste, então, aproximou-se devagar do rei e descreveu, com voz baixa, as pequenas coisas que faziam a vida valer — o brilho de um botão de rosa, o sabor da sopa da avó, a coragem de uma criança que aprende a andar. O rei ergueu os olhos como se quisesse lembrar o que era sorrir. Ele sentiu a brisa, lembrou-se de um barco que cantava ao atravessar a manhã, e um leve tremor percorreu-lhe o peito.
Mas a pedra ainda não se desfizera. Foi então que Marina puxou do bolso a folha brilhante e o amuleto do sapo. Juntas, ofereceram ao rei o presente das pequenas bondades: a folha que representava gratidão e o amuleto que lembrava canções esquecidas. A pedra, que se alimentava de esquecimento, enfraqueceu. Uma gota, outra gota da água da lagoa escorreu da garrafa, tocando a pedra. Com um som parecido com um suspiro, a pedra começou a rachar.
Quando o primeiro estilhaço caiu ao chão, uma gargalhada pequena escapou dos lábios do rei — era frágil, como um pio de passarinho. Depois a gargalhada cresceu, e com ela, todas as cores voltaram às cortinas e aos jardins. O rei abriu os braços num abraço que parecia pedir perdão ao sol. A pedra se transformou em pó de luar e, ao desaparecer, deixou uma promessa: “Cuidarei do riso e da ternura.”
As princesas, Maria e Celeste, foram recebidas com festa. Mas elas lembraram: a verdadeira festa seria no dia em que cada pessoa aprendesse a oferecer uma gota de bondade. Voltaram para a Lagoa Encantada levando nos frascos apenas memórias e no chão da sala do trono um pouco do pó de luar, que semearam nas margens. As flores ali cresceram como se tivessem aprendido a contar histórias.
À noite, enquanto o céu desenhava constelações, Marina e Celeste sentaram-se na margem. Lira flutuava junto a elas, e a lagoa sussurrava suas velhas canções. “A lagoa nos ouviu e nos ensinou,” disse Marina. Celeste sorriu e respondeu: “E a bondade entrou no castelo. É assim que os lugares se curam — um gesto de cada vez.”
E assim, a Lagoa Encantada permaneceu, não apenas como água brilhante, mas como lembrança viva de que, mesmo diante das pedras mais duras, uma gota de ternura e um gesto gentil podem transformar corações. Crianças que passavam por ali ouviam as histórias e, ao irem embora, prometiam em voz baixa: “Cuidarei de uma gota de bondade, sempre.”
Fim.