
Era uma vez, nos primeiros dias do mundo que Deus havia criado, dois irmãos chamados Caim e Abel. Eles eram filhos de Adão e Eva. Abel era pastor de ovelhas: cuidava com muito carinho de seus carneiros, garantindo que estivessem sempre limpinhos e bem alimentados. Caim, por sua vez, era agricultor: arava a terra, plantava sementes e colhia frutas e grãos para alimentar a família.
Certo dia, Caim decidiu preparar uma oferenda para Deus com o fruto de seu trabalho na terra. Escolheu as melhores espigas de trigo e as mais belas frutas que colhera. Cheio de expectativa, levou seu cesto de ofertas até o altar. Abel, então, também decidiu honrar a Deus com o que tinha de melhor. Pegou o cordeiro mais forte e saudável de seu rebanho e preparou com todo o amor uma oferta de sangue puro, simbolizando a vida preciosa de sua criação.
Quando chegaram ao altar, Caim colocou suas frutas e grãos diante de Deus e pediu que aceitasse sua oferenda. Abel, com o coração cheio de fé, colocou o cordeiro diante do Senhor.
E Deus, que olha tudo com olhos de amor, aceitou com agrado a oferta de Abel, pois ela vinha de um coração cheio de gratidão e carinho. Porém, a oferta de Caim não agradou a Deus da mesma forma.
Caim ficou muito, muito triste. Seu rosto se carregou de nuvens escuras. Por que Deus aceitara a oferta de seu irmão e rejeitara a dele? A dúvida cresceu em seu coração, junto com uma pontada de inveja. Ele pensava: “Se Deus favorece Abel, então sou menos amado. Por que meu fruto não é bom o bastante?”
Aquele sentimento ruim – a inveja – começou a tomar conta de Caim. Ela sussurrava que Abel era melhor agricultor, melhor pastor, melhor filho. Caim tentou ignorar, mas a raiva só crescia. Cada manhã que via Abel cuidar do rebanho, seu ciúme ficava maior.
Um dia, Caim convidou Abel para trabalharem juntos no campo. Abel, sempre gentil, aceitou. Caim então sugeriu que fossem até uma parte mais afastada do pomar, para conversar melhor. Abel, sem desconfiar de nada, foi acompanhá-lo.
Lá, Caim falou com Abel com a voz carregada de tristeza e raiva:
— Abel, por que você conquistou o favor de Deus e eu não? — perguntou ele, a voz rompendo em choro.
— Caim, meu irmão — respondeu Abel, com doçura —, Deus conhece o coração de cada um. Se você ofereceu a Ele o que tinha de melhor, certamente Ele vai aceitar no tempo certo. Continua fazendo o bem, pois Deus vê todo esforço sincero.
Mas a inveja no coração de Caim falava mais alto. Ele se virou contra Abel, empurrou-o e eles caíram lutando. Abel tentou se defender e, sem querer, uma pedra atingiu seu irmão. Abel caiu no chão, ferido, e não conseguiu se levantar. A briga havia acabado em tragédia: Abel morreu ali, no meio dos ramos das árvores.
Quando Caim percebeu o que fizera, sentiu um desespero tão grande que começou a chorar. Ele compreendeu que seus sentimentos ruins o haviam levado a um erro irreparável. Ele se ajoelhou ao lado do irmão e ficou ali, chorando.
Então, Deus veio ao lugar onde os irmãos estavam. Com voz triste, perguntou a Caim:
— Onde está Abel, teu irmão?
— Não sei — respondeu Caim, tremendo. — Sou eu o seu guarda?
Deus, conhecedor de todas as coisas, afirmou que sabia o que acontecera. Ele explicou a Caim que a inveja e o pecado sempre trazem consequências dolorosas. Caim, olhando para o chão, sentiu-se envergonhado e arrependido.
Mesmo assim, Deus mostrou misericórdia. Ele disse:
— Caim, você será castigado por sua escolha, mas ainda assim eu não o abandonarei. Se alguém tentar te ferir, a vingança virá sobre quem o ferir sete vezes mais. Por isso, eu te marcarei com um sinal de proteção.
Caim recebeu então o “sinal de Caim”, um sinal visível aos olhos de todos, para que ninguém mais o machucasse. Ele foi punido a vagar pela terra, trabalhando sem descanso, carregando para sempre a lembrança do que fizera. Mas, apesar disso, Deus permaneceu ao seu lado, mostrando que mesmo quando erramos, podemos aprender, crescer e viver com responsabilidade pelas nossas escolhas.
A história de Caim e Abel ensina que o ciúme e a inveja podem levar a decisões tristes e graves, mas também que a misericórdia e o perdão de Deus nos convidam a reconhecer nossos erros, aprender com eles e buscar a reconciliação. Abel ficou na memória como um exemplo de coragem e fé, e Caim seguiu sua vida carregando as lições de amor, respeito ao próximo e cuidado com o próprio coração.