Há muito tempo, nas profundezas da floresta amazônica, vivia o Curupira, uma criatura mágica e misteriosa, conhecida por seu cabelo de fogo e pés virados para trás. Ele era o guardião das florestas, protetor incansável das árvores, dos rios e de todos os animais que ali habitavam. Sua missão era impedir que caçadores e exploradores destruíssem o equilíbrio da natureza, e para isso, usava sua astúcia e poderes encantados.
Certa manhã, a floresta acordou em silêncio. O ar estava pesado, e os pássaros, geralmente tão animados, não cantavam. O Curupira, que conhecia cada canto da floresta, sentiu imediatamente que algo estava errado. Com seus olhos brilhantes, ele observou atentamente o horizonte. De repente, ouviu o som de machados batendo em árvores. Era o que ele temia: um grupo de madeireiros havia entrado na floresta.
Esses homens estavam decididos a derrubar as árvores gigantescas, sem se importar com os animais que ali viviam ou com a importância daquele ambiente. Queriam cortar as árvores mais valiosas para vender a madeira na cidade, acreditando que ninguém, nem mesmo o lendário Curupira, poderia detê-los.
— Eles não me conhecem — sussurrou o Curupira, com um sorriso travesso.
Ele sabia que para proteger sua amada floresta, precisaria usar todos os seus truques e habilidades. Primeiro, decidiu confundir os homens. Como seus pés eram virados para trás, ele começou a caminhar em círculos ao redor do acampamento dos madeireiros, deixando pegadas falsas que apontavam na direção oposta de onde ele realmente estava. Os homens, ao verem as pegadas, pensaram que estavam seguindo alguém e, em vez de continuar derrubando as árvores, começaram a se perder na imensidão da floresta.
Conforme o dia passava, o Curupira usava seu assobio mágico para enganar os madeireiros, fazendo-os pensar que estavam sendo perseguidos por animais selvagens. Eles corriam em diferentes direções, mas sempre acabavam se deparando com o mesmo lugar, sem conseguir sair da floresta. À medida que o sol se punha, a floresta ficava cada vez mais sombria, e o Curupira sabia que o medo começava a tomar conta dos corações dos invasores.
Entre os madeireiros, havia um jovem chamado Miguel. Diferente dos outros, Miguel não queria machucar a floresta. Ele havia sido forçado a participar da expedição, pois sua família passava por dificuldades e precisava do dinheiro. Mas, enquanto estava ali, observando a beleza da floresta e ouvindo os gritos dos animais, Miguel começou a se arrepender. Ele se lembrava das histórias que seu avô contava sobre o Curupira, o protetor das florestas, e começou a perceber que aquilo que estavam fazendo era errado.
Certa noite, quando todos estavam exaustos e perdidos, Miguel se afastou do grupo. Ele caminhou em direção ao coração da floresta, decidido a pedir perdão ao Curupira. Sabia que o lendário protetor estava observando, e queria mostrar que ele não era como os outros.
— Curupira! — gritou Miguel, com o coração acelerado. — Eu sei que você está aí. Por favor, me escute! Eu não quero machucar a floresta. Eu só estou aqui porque minha família precisa de ajuda. Eu prometo que, se você me deixar sair daqui, eu vou proteger a natureza e nunca mais voltar com esses homens.
O Curupira, que estava escondido nas sombras, ouviu as palavras sinceras de Miguel. Ele sabia que o jovem não mentia, pois podia sentir o coração puro das pessoas. Com um piscar de olhos, o protetor apareceu diante de Miguel, sua figura pequena, mas imponente, iluminada pela luz da lua.
— Se é verdade o que diz, Miguel, eu o deixarei sair da floresta. Mas quero que faça mais do que apenas uma promessa. Você deve se tornar a voz daqueles que não podem falar — disse o Curupira, sua voz ecoando como o vento entre as árvores. — Ajude a proteger as florestas e os animais. Ensine outros a respeitarem a natureza.
Miguel, surpreso e ao mesmo tempo aliviado, concordou imediatamente.
— Eu juro, Curupira. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para proteger essa floresta e todas as outras. Não deixarei que homens destruam o que você guarda com tanto amor.
O Curupira sorriu, satisfeito com a promessa do jovem. Então, com um gesto rápido, fez as árvores ao redor de Miguel se abrirem, revelando um caminho iluminado pela lua que levava para fora da floresta. Miguel seguiu o caminho, enquanto os outros madeireiros, que não haviam se arrependido, continuaram presos na confusão da floresta até que, um a um, desistiram de sua missão e foram embora, sem nunca entender o que realmente havia acontecido.
Anos se passaram, e Miguel cumpriu sua promessa. Ele se tornou um defensor da natureza, educando as pessoas sobre a importância das florestas e lutando contra aqueles que queriam destruí-las. E, sempre que retornava à floresta amazônica, sentia que o Curupira estava por perto, observando-o com olhos atentos, mas desta vez, como um amigo e aliado.
E assim, a floresta permaneceu protegida, e o Curupira continuou a ser o guardião silencioso e implacável, sempre à espreita, pronto para defender sua casa contra qualquer ameaça.
Amei a historinha ❤️