Aprendizado

O Alho e a Ervilha na Pressão

Historinha O Alho e a Ervilha na Pressão

Numa vasta e ensolarada bancada de cozinha, onde montanhas de farinha se erguiam como picos nevados e rios de azeite reluziam sob a luz, viviam muitos legumes e vegetais. Entre eles, estava Verdinha, uma pequena e perfeitamente redonda ervilha. Ela era jovem, cheia de vida e via o mundo com um otimismo contagiante. Rolava de um lado para o outro, conversando com os tomates robustos e as cenouras compridas, sonhando com o dia em que faria parte de um prato magnífico.

Perto dela, num canto mais sombreado, repousava um Alho Ancião. Sua casca era seca e parecia papel, e ele carregava o cheiro forte e a sabedoria de muitas estações. Ele raramente falava, mas quando o fazia, sua voz era rouca e cheia de verdades. Ele já tinha visto muitos ingredientes irem e virem e sabia que o destino na cozinha era sempre uma transformação.

Certo dia, a Mão Gigante da Cozinheira desceu dos céus. Com um toque gentil, mas decidido, ela pegou um punhado de ervilhas, incluindo a pequena Verdinha, e vários dentes de alho, entre eles o Alho Ancião. O mundo de Verdinha girou e, de repente, ela se viu num lugar escuro, frio e metálico. Era uma panela de pressão.

“Onde estamos? Que lugar é este?”, guinchou Verdinha, seu coraçãozinho de ervilha batendo descontroladamente.

O Alho Ancião, que aterrissou suavemente ao seu lado, suspirou. “Estamos no ventre da transformação, pequena. Esta é a panela de pressão.”

A palavra “pressão” ecoou na mente de Verdinha, enchendo-a de pavor. Outros legumes foram adicionados, e logo em seguida, uma cascata de água fria os cobriu. A tampa foi fechada com um clique metálico e um giro firme, mergulhando-os numa escuridão quase total. O medo de Verdinha transformou-se em pânico.

“Vamos ficar presos aqui para sempre! Está escuro e frio! É o fim!”, ela choramingou, tentando se esconder atrás de um pedaço de cebola.

O Alho Ancião aproximou-se. “O fim é apenas um novo começo visto de um ângulo diferente”, disse ele calmamente. “Isto não é uma prisão, é uma prova.”

De repente, um calor começou a subir do fundo da panela. A água, antes fria, começou a aquecer e a borbulhar. Logo, um som assustador começou: um chiado baixo que crescia em volume e intensidade. A panela inteira começou a tremer.

“É um monstro! O monstro da pressão!”, gritou Verdinha.

“Não é um monstro”, corrigiu o Alho Ancião, sua voz firme apesar da vibração. “É a canção da mudança. Ouça bem. A pressão que você sente, o calor que nos envolve… eles não estão aqui para nos destruir, mas para nos refazer.”

Verdinha não conseguia entender. Como algo tão assustador poderia ser bom? O chiado tornou-se um assobio agudo e penetrante. Parecia que a panela ia explodir a qualquer momento.

O Alho continuou, quase como se estivesse meditando: “Minha casca seca e dura vai se soltar. Minha força, que alguns chamam de ardência, vai se suavizar e se transformar num perfume delicioso que dará alma a todo o prato. Eu não serei menos alho; serei um alho em minha melhor forma.”

Ele olhou para a pequena ervilha tremelicante. “E você, Verdinha… você que já é doce, ficará ainda mais tenra e macia. Sua cor se tornará mais viva. Sua doçura se espalhará, trazendo alegria a quem provar. A pressão vai apenas revelar o melhor que existe dentro de você.”

Inspirada pela calma do velho sábio, Verdinha fechou os olhos. Em vez de lutar contra o medo, ela tentou ouvir o chiado como uma música. Imaginou sua pele ficando mais macia e seu sabor se aprofundando. Ela sentiu o calor não como uma ameaça, mas como um abraço que a estava preparando para algo maior.

O tempo passou. O assobio finalmente parou. O calor diminuiu e, após um silêncio que pareceu uma eternidade, a tampa foi aberta. Uma nuvem de vapor perfumado subiu, e a luz do sol inundou a panela novamente.

Verdinha olhou para si mesma. Sentia-se diferente. Mais macia, mais quente. O Alho Ancião ao seu lado estava quase translúcido, exalando um aroma reconfortante que preenchia todo o espaço. Eles não eram mais ingredientes isolados, mas parte de uma sopa rica e colorida, um conjunto harmonioso de sabores e texturas.

Quando foram servidos numa tigela, Verdinha compreendeu. Aquele momento de medo intenso, de pressão esmagadora, tinha sido, na verdade, o seu momento de maior aprendizado. Ela percebeu que as situações mais difíceis e desconfortáveis são, muitas vezes, as que nos transformam, nos aprimoram e revelam a nossa verdadeira essência, tornando-nos melhores do que jamais imaginamos ser. E assim, a pequena ervilha sorriu, pronta e feliz para cumprir seu delicioso propósito.

4.7/5 - (10 votos)

historinha

Criador de historia infantil, adoro criar historinhas e também sou uma amante da literatura. Editor e fundador do Historia para dormir.

Um Comentário

O Que Achou da Historinha?

Botão Voltar ao topo