
Naquele ano, a véspera de Natal parecia ainda mais mágica em Vila Branca. As casas estavam cobertas de neve, as janelas brilhavam com luzes coloridas e o cheiro de biscoitos recém-assados se espalhava pelo ar frio. Crianças riam nas ruas, construindo bonecos de neve e fazendo anjos no chão branco, enquanto os adultos terminavam os últimos preparativos para a ceia.
Lá no céu, porém, a situação era bem diferente.
Papai Noel voava em seu trenó dourado, puxado por oito renas velozes, rasgando uma tempestade de neve como nunca havia visto. O vento rugia, girando em redemoinhos, e os flocos caíam tão densos que pareciam uma parede branca. Mesmo com o brilho do nariz de Rudolph, quase não havia visibilidade.
— Calma, minhas amigas, calma… — murmurou Papai Noel, segurando firme as rédeas. — Ainda temos muitas casas para visitar…
De repente, uma corrente de ar fortíssima atingiu o trenó por baixo. O veículo chacoalhou violentamente, o saco de presentes se ergueu e tombou para o lado. Houve um estrondo seco.
CRAC!
Uma das longas patins do trenó se partiu, e o eixo dianteiro entortou. O trenó começou a descer descontrolado, girando, enquanto alguns presentes voavam pela tempestade, desaparecendo na escuridão.
— Segurem-se! — gritou Papai Noel.
As renas tentaram estabilizar a queda, mas não havia muito o que fazer. O trenó mergulhou em direção à terra, atravessando as nuvens até que, com um impacto surdo, caiu no meio de uma floresta de pinheiros, bem na região de Vila Branca. A neve subiu em um grande arco ao redor, cobrindo tudo de branco.
Por alguns instantes, tudo ficou silencioso.
Então, Papai Noel ergueu-se devagar, sacudindo a neve do casaco vermelho.
— Ai, minhas costas… — resmungou, fazendo uma careta. Depois, olhou ao redor com preocupação. — Renas? Todos bem?
As renas fungaram, um pouco tontas, mas nenhuma estava ferida. O mesmo não podia ser dito do trenó. A patim direita estava quebrada em duas partes; o eixo, completamente torto. Vários presentes tinham desaparecido na escuridão da floresta.
Papai Noel tirou do bolso um pequeno relógio dourado, com ponteiros brilhantes.
— Três horas para a meia-noite… Se eu não consertar este trenó e recuperar os presentes, tantas crianças vão ficar sem Natal…
Ele respirou fundo, tentando pensar. Não podia voltar para o Polo Norte a tempo. Precisava de ajuda. Mas quem, naquela floresta silenciosa, poderia ajudá-lo?
Não muito longe dali, três crianças caminhavam de volta para casa depois de terem ido ver o lago congelado. Clara, de dez anos, era curiosa e observadora; adorava ler e resolver enigmas. Pedro, seu irmão de nove anos, era apaixonado por ferramentas, por desmontar e consertar qualquer coisa que estivesse quebrada. E Luiza, a caçula de sete anos, era sonhadora, corajosa e falava com todos — pessoas, animais, bonecos de neve.
Quando o estrondo ecoou pela floresta, os três pararam.
— Vocês ouviram isso? — perguntou Clara, franzindo a testa.
— Pareceu alguma coisa caindo — disse Pedro. — Grande.
— Talvez um gigante de neve! — imaginou Luiza, com os olhos brilhando. — Vamos ver!
Antes que Clara pudesse sugerir voltar para casa, Luiza já corria em direção ao som. Pedro foi atrás, e Clara, preocupada, acabou seguindo os dois.
Depois de alguns minutos, chegaram a uma clareira. O que viram fez os três ficarem de boca aberta.
Um trenó enorme, vermelho e dourado, estava inclinado na neve, com uma patim quebrada. Ao lado dele, renas poderosas sacudiam as cabeças, ainda assustadas. E, bem no meio da cena, com sua barba branca, casaco vermelho e gorro com pompom, estava ele.
— Isso não pode ser verdade… — sussurrou Clara.
— É o Papai Noel! — gritou Luiza, sem qualquer dúvida.
Papai Noel se virou, surpreso, e logo abriu um sorriso caloroso.
— Ho, ho, ho! Parece que a sorte ainda está do meu lado. Três ajudantes chegaram bem na hora.
Pedro deu um passo à frente, desconfiado, mas encantado.
— O senhor… caiu do céu?
— Infelizmente, sim — respondeu Papai Noel. — Meu trenó quebrou durante a tempestade, perdi alguns presentes, e o tempo está correndo contra nós.
Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, algo pequeno e peludo saltou de um galho, pousando na neve bem ao lado de Luiza. Era um esquilo de pelagem cinza e olhos espertos.
— Não é só o tempo que está correndo, não. Eu também! — disse o esquilo, com uma voz fina e rápida.
As crianças pularam para trás.
— Ele… falou! — exclamou Pedro.
— É claro que eu falo — respondeu o esquilo. — Pelo menos nas noites de Natal, quando a magia está mais forte. Eu sou Neco, o esquilo guardião desta floresta. E parece que temos um trenó em apuros.
Luiza aproximou-se, encantada.
— Oi, Neco. Eu sou a Luiza. A gente pode ajudar o Papai Noel, né?
Papai Noel assentiu, sério.
— Eu realmente preciso de vocês. Sozinho, não vou conseguir. Clara, você parece esperta e atenta. Preciso que você ajude a organizar tudo, ver o que falta, planejar. Pedro, você entende de consertar coisas?
— Eu… acho que sim — disse o menino, lembrando dos brinquedos que já desmontara. — Eu conserto bicicletas, carrinhos, até a torradeira da mamãe.
— Perfeito — continuou Papai Noel. — Preciso que você examine o trenó e veja como podemos arrumar a patim e o eixo. Luiza, você e Neco vão procurar os presentes perdidos pela floresta. Não podemos deixar nenhuma criança sem seu pacote.
— Missão aceita! — gritou Luiza, empolgada.
— Muito bem — disse Neco, pulando para o ombro dela. — Eu conheço cada árvore daqui. Vamos fazer isso voar.
Enquanto os dois saíam correndo, Pedro se ajoelhou ao lado do trenó, passando a mão pelo metal e pela madeira.
— A patim quebrou bem aqui… — murmurou. — Se a gente conseguir juntar as partes e reforçar com algum suporte, talvez aguente o voo. O eixo eu posso tentar endireitar, mas vou precisar de algo forte para usar como alavanca.
Clara olhava ao redor, já pensando.
— Há uma casa de caça abandonada não muito longe daqui. Vi uma vez indo para o lago. Talvez lá tenha ferramentas, madeira, pregos…
Papai Noel sorriu.
— Você é mesmo observadora, Clara.
— Vamos até lá — decidiu ela. — Eu ajudo a carregar o que o Pedro precisar.
Os dois correram pela floresta, guiados pela lembrança de Clara. Em poucos minutos, chegaram à casinha de madeira, meio coberta pela neve. A porta estava entreaberta. Lá dentro, empoeirado, encontraram um velho baú com martelo, pregos, um pedaço de ferro resistente e tábuas de madeira.
— Isso serve! — disse Pedro, pegando o que podia. — Com essa madeira e esse ferro, acho que consigo reforçar a patim.
De volta à clareira, ele começou a trabalhar. Colocou as duas partes da patim lado a lado, usou o ferro como suporte por baixo e as tábuas para dar firmeza. Martelou com cuidado, concentrado, enquanto Clara ajudava segurando as peças.
— Precisamos de calor para deixar o metal mais maleável — observou Pedro, preocupado.
— Deixe isso comigo — disse Papai Noel, chamando uma das renas. — Blitzen, aproxime-se.
Os olhos da rena brilharam, e, por um momento, o ar ao redor dela pareceu aquecer. Naquela noite especial, até o hálito das renas carregava um pouco de magia. O metal esquentou o suficiente para que Pedro pudesse ajustá-lo melhor.
Enquanto isso, Luiza e Neco corriam pela floresta, seguindo rastros na neve.
— Eu vi um pacote azul ali! — gritou Luiza.
— E outro verde atrás daquele tronco! — completou Neco, escalando rapidamente as árvores para alcançar os presentes mais altos.
Eles riam, escorregavam, levantavam, e colocavam cada pacote de volta em um saco improvisado que Luiza carregava.
Depois de algum tempo, já cansados, voltaram para a clareira.
— Todos os presentes que encontramos estão aqui! — anunciou Luiza, orgulhosa.
Clara os contou, conferindo com uma pequena lista brilhante que Papai Noel tirara do bolso.
— Falta só um… — murmurou ela. — Um presente pequeno, embrulhado em papel dourado.
Neco fechou os olhos por um instante.
— Eu sei onde pode estar. Vi algo brilhando perto de uma pedra grande, no caminho de volta. Vou lá!
Ele disparou floresta adentro e, pouco depois, voltou carregando um pequeno pacote dourado.
— Encontrado.
Papai Noel olhou o relógio.
— Dez minutos para a meia-noite…
— Patim reforçado, eixo endireitado — anunciou Pedro, ofegante, dando os toques finais. — Não está perfeito, mas está firme.
Clara verificou as amarrações, testou o equilíbrio do trenó.
— Acho que aguenta. Se as renas forem cuidadosas…
Papai Noel passou a mão pelo trenó, emocionado.
— Vocês fizeram isso juntos. Cada um fez a parte que sabia fazer melhor. Isso é mais poderoso do que qualquer magia que eu conheça.
Ele subiu no assento, as renas agitaram as cabeças, ansiosas para voltar ao céu. Com um gesto, o trenó começou a deslizar, depois a flutuar, e enfim ergueu-se no ar, descrevendo um círculo sobre a clareira.
O trenó não balançou; estava firme.
Papai Noel pousou de novo apenas por um instante, apenas para abraçar cada um.
— Clara, sua organização e calma foram essenciais. Pedro, sem suas mãos habilidosas, meu trenó ainda estaria no chão. Luiza, sua coragem e alegria contagiaram a todos — e, claro, Neco, não há guardião de floresta melhor do que você.
As crianças sorriram, cheias de orgulho.
— Lembrem-se — disse Papai Noel —, o verdadeiro poder do trabalho em equipe está em cada um usar o que tem de melhor para ajudar os outros. É isso que faz o Natal existir todos os anos.
Com um último aceno, ele puxou as rédeas.
— Vamos, minhas amigas! Ainda há muitas chaminés nos esperando!
O trenó subiu aos céus, desaparecendo entre as nuvens, deixando para trás um rastro de luz suave na noite escura.
Clara, Pedro e Luiza ficaram ali, em silêncio, sentindo o coração aquecido apesar do frio. Sabiam que tinham feito parte de algo grande — não só por terem ajudado o Papai Noel, mas por terem descoberto, juntos, o quanto eram fortes quando se uniam.
Na manhã seguinte, ao lado dos presentes habituais, encontraram, cada um, um pequeno pacote dourado igual ao que haviam resgatado na floresta. Dentro de cada um, havia um enfeite de trenó em miniatura e um bilhete:
“Para quem salvou o Natal com união, coragem e amizade. Nunca se esqueçam do poder de trabalharem juntos. Com carinho, Papai Noel.”
E, desde aquela noite, sempre que precisavam enfrentar um desafio, as três crianças se lembravam do trenó perdido, da tempestade, do esquilo falante — e de como, em equipe, nada parecia impossível.



