Era uma vez, em uma pequena vila rodeada por florestas densas e montanhas imponentes, um menino chamado Antônio. Desde pequeno, ele era conhecido por sua coragem e curiosidade. Amava explorar os cantos mais remotos da vila, sempre buscando aventuras e ajudando quem precisasse. Mas mal sabia Antônio que uma jornada muito além de seus sonhos estava prestes a começar.
Certa manhã, a vila acordou em um caos absoluto. O Rio Azul, fonte de vida para os moradores, havia secado misteriosamente da noite para o dia. Sem ele, a vila não teria água, comida e nem como sobreviver. Os anciãos sussurravam entre si que o problema vinha da temida Montanha Escura, onde um dragão colossal guardava a nascente do rio. Diziam que ninguém jamais havia voltado de lá. O desespero se espalhou pela vila, pois todos sabiam que sem o rio, a vila estava condenada.
Entretanto, enquanto o medo se apoderava de todos, havia um único garoto que não estava disposto a desistir: Antônio. Sabendo que a vila não sobreviveria sem o Rio Azul, ele decidiu enfrentar o dragão. Ignorando os conselhos para não ir, ele preparou uma mochila com alguns suprimentos e partiu em direção à Montanha Escura.
A jornada foi ainda mais árdua do que ele imaginava. As florestas densas pareciam querer engoli-lo. Logo no primeiro dia, Antônio enfrentou uma enorme serpente dourada que bloqueava seu caminho. Mas, com inteligência, ele lembrou de uma antiga história que sua avó lhe contava: as serpentes douradas só recuavam diante de espelhos. Com criatividade, ele usou a lâmina de sua faca, refletindo a luz do sol diretamente nos olhos da criatura, que, atordoada, deslizou para longe, liberando o caminho.
Conforme subia as montanhas, a viagem ficou mais perigosa. Ao anoitecer, foi surpreendido por uma nevasca, o que tornava quase impossível continuar. Ele buscou abrigo entre as pedras e, tremendo de frio, adormeceu. Mas na calada da noite, foi acordado por um som estranho. Ao abrir os olhos, viu diante de si uma figura imensa e majestosa: um lobo branco de olhos brilhantes. Porém, ao invés de atacar, o lobo apenas observava. Antônio, sentindo uma conexão inesperada, estendeu a mão com um pouco de comida, e o lobo aceitou. A partir daquele momento, o animal começou a guiá-lo pela trilha mais segura até o topo da montanha.
Na manhã seguinte, após atravessar um penhasco sobre uma ponte que balançava violentamente ao vento, Antônio finalmente avistou a temida Montanha Escura. Ela se erguia, sombria e silenciosa, dominando o horizonte. Com o coração acelerado, ele avançou. No caminho, encontrou uma águia presa em uma armadilha. Embora cansado e preocupado, ele parou para libertá-la. A águia, em agradecimento, levantou voo e desapareceu entre as nuvens.
Ao chegar à caverna onde o dragão vivia, Antônio sentiu o chão tremer sob seus pés. O enorme dragão, de escamas negras como a noite, saiu de sua toca, soltando uma baforada de fumaça. Suas asas imensas cobriam o céu e seus olhos brilhavam como brasas. Mas, mesmo diante da criatura gigantesca, Antônio não tremeu. Ao invés de sacar sua espada, ele se ajoelhou e falou com uma voz firme:
— Grande dragão, não vim aqui para lutar. Minha vila está morrendo sem a água do Rio Azul. Só você pode nos ajudar a restaurá-la. Peço sua ajuda, não por mim, mas por todos que dependem dela.
O dragão, surpreso pela bravura e humildade do garoto, silenciou por um momento, antes de inclinar sua cabeça colossal.
— Muitos vieram até mim em busca de poder, ou para me desafiar, mas você é o primeiro a pedir com bondade. — rugiu o dragão. — Provaste ser digno. Levanta-te, pequeno herói, e segue-me.
O dragão, com um bater de asas poderoso, levou Antônio até a nascente do rio, que estava bloqueada por uma enorme pedra mágica. Juntos, eles removeram a barreira, e a água cristalina começou a fluir novamente, ganhando força e descendo em cascata pela montanha.
Antes de partir, o dragão revelou a Antônio que, por muitos anos, ele apenas guardava a nascente para proteger o equilíbrio natural. E agora, ao ver a bondade de Antônio, sabia que a vila poderia cuidar do rio sem a necessidade de guardiões.
Ao voltar para a vila, Antônio foi recebido com aplausos e lágrimas de alegria. O Rio Azul estava de volta, e com ele, a vida. Mas Antônio recusou ser tratado como um herói, afirmando que a verdadeira força vinha da compaixão e da coragem de pedir ajuda quando necessário.
E assim, a lenda de Antônio, o menino que enfrentou um dragão sem levantar uma espada, se espalhou por todos os reinos, inspirando gerações a encontrarem a verdadeira coragem em seus corações.